domingo, 3 de dezembro de 2006

Maria Beatriz Branco - Homília de Requiem



ECCLESIA CATOLICAE LIBERAT



Homília de Requiem


no terceiro dia da ascensão de maria beatriz serpa branco, in memoriam.
para fernando serpa branco

foram encontros de amor que fizeram com que a nossa irmã beatriz tenha sido o ser excepcional que foi. que é. não as doutrinas, as instituições ou recurso ao intelecto que nela fizeram desabrochar o «dom» de saber fazer despertar em todos os que com ela se cruzaram, a consciência de que podiam ser livres, despertos e, principalmente, amorosos.

um desses encontros de amor, de um amor feroz, foi o encontro com o seu companheiro de sempre, fernando serpa branco, pólo complementar, sustentáculo seguro de um permanente confronto, de onde sempre nasceu uma poderosa luz.

ao longo da sua vida, beatriz interessou-se por muitas coisas que sempre viveu com intensidade: a filosofia, o encontro entre as religiões, a teosofia, a experiência transmitida por kristnamurti. pertenceu a organizações várias, umas que deixou, outras onde permaneceu até ao fim deste seu ciclo de vida, como é o caso da sociedade teosófica e do ramo dessa instituição que fundou com fernando serpa branco há quase meio século.

através das oportunidades que a vida nos traz, tive, como muitas dezenas de pessoas, a possibilidade de conviver (com-viver) com eles (beatriz e fernando) dentro da sociedade teosófica, através do ramo «boa vontade», em évora, e fora desse círculo.

neste momento em que olhamos para a sua partida e, inevitavelmente, lembranças várias, conversas, momentos de carinhosa partilha, vêm à memória. reparo que os momentos fundamentais de oferenda da sua compassiva existência, não foram os vividos no seio das instituições, mas os que espontaneamente aconteceram. flutuantes, descontraídos, entre o riso e o sorriso.

beatriz foi um ser voador, um pássaro ardente e fernando um ninho de exemplo, afecto e acolhimento. seres assim não têm cabimento no que é conhecido, naquilo que é convencional e instituído.

não sei se beatriz foi filósofa, teósofa, isto ou aquilo. sei que sempre foi um ser íntimo, um poema em construção, um poema incontrolável, sem tempo, papel ou caneta. a ordem tirada do caos. a força arrebatadora e indomável, talvez até autoritária – a força que todos os poemas têm e fernando, a perfumada toalha de linho onde se envolvia a criança permanente que beatriz foi. felizmente contraditória, paradoxal e corajosa.

o legado que nos fica é o mais simples e complexo: ser livre. o que é ser livre? essa foi a pesquisa que ambos nos ensinaram a enfrentar


Reverendo Padre Frederico Mira George.'.

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